A Inteligência Artificial vai retirar postos de trabalho?

A nova fronteira entre o Humano e a Máquina

Imagem gerada por IA

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"A inteligência artificial vai substituir a inteligência humana?" é a questão que estabelece uma linha ténue entre os que afirmam com convicção esta possibilidade e os que a rejeitam. A resposta é uma discussão clara entre criatividade e técnica, como defende Raquel Rocha. A arquiteta, de 27 anos, mestre na sua área, posiciona-se firmemente face a esta dualidade, enaltecendo aquilo que é inerente ao ser humano e impercetível pela máquina: o sentir.

O debate sobre esta nova fronteira antagónica pode ser justificado pelos dados de um inquérito realizado que, a partir de uma amostra de 105 indivíduos, comprovam que 68,6% recorrem a ferramentas de Inteligência Artificial nas suas atividades. As dúvidas instalam-se e põe-se em causa as capacidades e inteligência humana face a uma inteligência que nós próprios criámos.

O que a população pensa?

Inquérito nas ruas do Porto - A Inteligência Artificial vai substituir por completo o trabalho do ser humano?

Inquérito nas ruas do Porto - A Inteligência Artificial vai substituir por completo o trabalho do ser humano?

"Somos os únicos capazes de entrar num espaço e sentir o que ele precisa"

Raquel Rocha

Imagem gerada por IA

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Raquel Rocha, Arquiteta

Raquel Rocha, Arquiteta

De que forma a Inteligência Artificial auxilia o trabalho | Inquérito de autoria própria

De que forma a Inteligência Artificial auxilia o trabalho | Inquérito de autoria própria

Projeto de Arquitetura gerado por Inteligência Artificial - Midjourney

Projeto de Arquitetura gerado por Inteligência Artificial - Midjourney

Raquel iniciou há cerca de 3 anos a sua atividade profissional na área de arquitetura, tempo este em que as ferramentas de Inteligência Artificial já estavam presentes no mercado de trabalho. Assume, sem quaisquer rodeios, que recorre a programas de Inteligência Artificial para elaborar os seus projetos.

“O que faz é dar-nos mais tempo para sermos criativos”

A redução do tempo de trabalho representa para 55,4% das pessoas a maior vantagem do uso destas ferramentas, segundo um inquérito realizado. “Se fizer uma planificação à mão demoro uma semana, enquanto que, com a Inteligência Artificial, demoro 10 minutos”.

Raquel defende que os programas de Inteligência Artificial são um complemento para a parte técnica do trabalho. Aplicações como o AutoCAD e BIM conseguem criar um edifício 3D e, automaticamente, produzir as plantas e os cortes [desenhos técnicos da construção essenciais para a representação de um projeto]. Mas há um limite que exige as capacidades humanas.

A arquiteta, encontra uma lacuna na utilização destas ferramentas, que a obriga a verificar e corrigir a peça final apresentada . " A Inteligência Artificial cria obras bonitas, mas por vezes temos uma porta a sair para um sítio que não existe". Esta área profissional requer um sentido funcional e não só estético. " A imagem pode ser bonita, mas depois temos de ver se é algo real, que funciona e cumpre as leis aplicadas".

A dúvida sobre a capacidade da Inteligência Artificial substituir o trabalho do ser humano, estende-se por diversas áreas profissionais sem excluir a arquitetura. "Existe quem seja completamente contra a utilização da Inteligência Artificial pelo medo que vá retirar trabalho". Raquel assegura que "nunca vai conseguir roubar o nosso lugar".

Esta discussão sustenta-se em dois pilares. A técnica e a criatividade. Por um lado, estas ferramentas fornecem uma base de trabalho que auxilia no processo do desenvolvimento técnico de um projeto. No outro lado da margem, temos a criatividade. Esta é a chave mestra que o ser humano detém. A máquina não cria nada do zero.

" A Inteligência Artificial trabalha com base em tudo o que já foi feito"

Raquel fala da capacidade humana de sentir. Invoca o setor emocional do cérebro humano como argumento indestrutível, face a qualquer ideia sustentada pela supremacia da máquina. " É uma coisa que a Inteligência Artificial nunca vai conseguir: estar num local e sentir o que aquele local precisa". É necessário ter em conta que "a sensibilidade do espaço" é uma capacidade que só o ser humano consegue responder.

A Inteligência Artificial consegue produzir uma ideia, mas essa ideia precisa de ser trabalhada, sujeita a alterações. A plataforma Midjourney (Discovery) atua nesse processo criativo. A comunicação entre o arquiteto e o programa é feita por uma ligação de palavras-chave. É preciso saber o que pedir, e como pedir. Assim que se conhece inteiramente o funcionamento do programa, os utilizadores já reconhecem que determinada palavra vai produzir um determinado resultado na imagem. A aplicação funciona a partir de "uma descrição breve, utilizando palavras técnicas de ideias e conceitos", tendo como produto final uma imagem 3D.

O edifício ou espaço produzido exige alterações significativas para que fique "minimamente concebível", dado que "tudo o que sai da Inteligência Artificial são coisas muito abstratas". A arte generativa é o resultado de um algoritmo generativo, que cria uma imagem através de múltiplos dados ou padrões já existentes.

Podemos questionar a credibilidade do trabalho do arquiteto? Porque um cliente vai pagar por um produto que não é executado pelo profissional? Raquel, assume que os clientes "não conseguem distinguir uma imagem feita por um arquiteto ou gerada por Inteligência Artificial", mas que só recorrem a estas ferramentas "numa fase inicial".

A Inteligência Artificial permite uma linguagem mais clara e fluída entre o cliente e o arquiteto. “Os clientes têm formações diferentes das nossas e por isso mostrar apenas as plantas e os cortes não lhes permite imaginar o espaço”. Em obras públicas, não surge esta necessidade dada a envolvência com profissionais entendidos da área. "Eles conseguem ver o desenho como nós, porque todos falamos a mesma língua".

Raquel defende que, numa primeira etapa, recorrer à Inteligência Artificial "é benéfico para todos" . Mas como pode ser positivo entregar um projeto que não é de total autoria própria? Por um lado, apresenta-se benéfico para o arquiteto, já que reduz não só o tempo de trabalho e de pesquisa, como fornece mais tempo para o processo criativo. Por outro lado, o cliente "tem uma resposta mais rápida".

As ferramentas de Inteligência Artificial são recurso para uma fase primária dos projetos, quando a intenção é apresentar apenas uma ideia ao cliente. "Ele diz o que pretende, como quer o plano, as ideias que tem e o arquiteto gera uma solução".

Segundo Raquel, são recorrentes as situações em que a obra é cancelada ou as soluções apresentadas não estão de acordo com os objetivos do cliente. "Acabávamos por perder imenso tempo com algo que nem era para avançar". Essa ideia de projeto é posteriormente aprimorada com a visão e assinatura estética do arquiteto.

Reduzir o tempo de trabalho no segmento técnico do projeto resulta numa maior disponibilidade de tempo para o arquiteto aplicar as suas competências criativas e ideias inovadoras, adequadas ao objetivo do cliente, defende Raquel. Segundo os dados obtidos no inquérito elaborado, 48,6% dos indivíduos, consideram que a Inteligência Artificial facilita o processo criativo.

A criatividade é, portanto, uma capacidade humana. Mas a comunicação não é também uma competência inerente ao ser humano? E se a máquina já conseguir comunicar por nós?

A Inteligência Artificial já atua sobre diversos campos da Comunicação, tendo em vista a democratização do acesso à informação. Uma sociedade globalmente conectada exige que se transcenda barreiras linguísticas e culturais e que a comunicação demonstre ser um processo acessível e inclusivo para todos.

A iniciativa "IVLinG" surge como resposta a uma necessidade da comunidade com deficiência auditiva. A aplicação funciona a partir de um Intérprete Virtual de Língua Gestual, que auxilia o diálogo entre a população surda e os ouvintes. Em Portugal, estima-se que existam 30 mil pessoas surdas que comunicam através da Língua Gestual Portuguesa (LGP), segundo o site oficial da República Portuguesa.

O projeto, ainda em fase de desenvolvimento, revela-se "promissor", apoiando-se em tecnologias de Inteligência Artificial e técnicas de computação gráfica. Este instrumento inovador é fruto do esforço coletivo de um grupo de estudantes do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), pertencentes às áreas de Engenharia Informática e da Computação Gráfica e Multimédia, justifica Ana Paula Vale, Vice-presidente do IPVC.

Em tempo real e com recurso a câmeras de vídeo, o programa efetua "o reconhecimento automático de gestos e expressões faciais e corporais", sendo estes movimentos, posteriormente, "traduzidos para texto e/ou áudio", informação esta recebida pela pessoa ouvinte no seu equipamento tecnológico. A comunicação inversa inicia-se com o ouvinte, que se expressa por uma linguagem natural por voz, sendo esse áudio "convertido em texto e traduzido para linguagem gestual" através de um avatar, explica Ana Paula Vale.

O processo criativo dos estudantes, permitiu-lhes detetar uma falha no sistema e automaticamente ir à procura de uma solução exequível e inovadora que mitiga-se os seus efeitos. A Inteligência Artificial pode ser parte da solução, como base técnica para a conceção do produto final.

Assume-se como importante a implementação nos estabelecimentos de ensino aprendizagens, que visem capacitar os estudantes a trabalhar de forma eficaz com ferramentas de Inteligência Artificial, para que consigam responder aos desafios da inserção desta ferramenta nos postos de trabalho. "Temos de olhar para a Inteligência Artificial como um aspeto positivo da nossa vida e, como tal, temos de capacitar os nossos estudantes para integrarem o novo mercado de trabalho".

Compreender quais são os principais domínios da Inteligência Artificial e o que pode ser usado com base nesta ferramenta "é o processo que fazemos no dia a dia, no âmbito das nossas formações", explica Ana Paula Vale.

Ana Paula Vale, Vice-presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC)

Ana Paula Vale, Vice-presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC)

"A Inteligência Artificial está a dar os primeiros passos como ferramenta popular"

Alípio Jorge

Imagem gerada por IA

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Ao contrário do que muitos pensam, a Inteligência Artificial não surgiu agora "existe à muitas décadas mas foi sempre uma coisa de laboratório", explica Alípio Jorge.  

O processo de inserção desta ferramenta no meio social "ainda está a dar os primeiros passos", dado que, "só nos últimos 5/10 anos é que começou a ser adotada popularmente".

Podemos recuar no tempo e pensar nos primórdios da Inteligência Artificial com o surgimento do Google Tradutor. Existe desde 2006 e através da recolha de dados linguísticos, traduzia um texto, inicialmente, para dois idiomas: Inglês e Árabe. Hoje, a tradução é feita entre 133 línguas diferentes. "É uma área da Inteligência Artificial que evoluiu muito com os modelos de linguagem mais recentes".

O aparecimento de modelos de linguagem de fácil utilização, como o ChatGPT, garantiram "uma maior visiblidade a uma área de investigação que já tinha dado fortes passos desde 2017".

O ChatGPT foi lançado em dezembro de 2022 e tornou-se a aplicação com o crescimento mais rápido da história da internet. Segundo um inquérito realizado, o ChatGPT, é a ferramenta de Inteligência Artificial mais utilizada, correspondendo a 90,4%.

“Em 20 anos a acompanhar a internet, não conseguimos lembrar-nos de um crescimento mais rápido numa aplicação destinada a consumidores”
Escrevem os analistas do banco de investimento UBS, num estudo.

ChatGPT, junta a palavra "Chat" que define a sua funcionalidade de chatbot e "GPT" que significa "Generative Pre-trained Tranformer". A ferramenta funciona a partir de uma conversa entre o utilizador e o programa. Podemos perguntar o que quisermos e obtemos uma resposta em segundos. "Está treinado para seguir uma instrução e providenciar uma resposta detalhada", explica a OpenAI, empresa que criou o ChatGPT.

O "ChatGPT" no Ensino

O novo fenómeno do mundo tecnológico já conta com mais de 100 milhões de utilizadores ativos mensais, segundo o jornal Expresso.

De acordo com Alípio Jorge, a Inteligência Artificial "já existe há muito tempo na área do ensino", no entanto, "tinha pouca utilização". O ChatGPT veio então servir o ensino e hoje, é recurso para "esclarecimento dos alunos e apoio para fazer provas".

O aumento do uso destas ferramentas, uniu a aprendizagem e o mercado de trabalho. As instituições de ensino cada vez mais apostam em formações que permitam qualificar os jovens a utilizarem eficientemente a Inteligência Artificial nas suas atividades profissionais.

A licenciatura em Inteligência Artificial e ciência de dados é uma formação com base na ciência de computadores e matemática, concedida pela Universidade do Porto e distingue-se por ser uma iniciativa pioneira no norte do país. "O curso preenche uma lacuna das ofertas formativas atuais", comenta a Universidade do Porto.

"O mercado de trabalho precisa de pessoas que são especializadas em Inteligência Artificial e cada vez mais essa especialização vai ter de ser maior"
Alípio Jorge, co-diretor da LIACD

Podemos questionar o que transformou a inteligência não humana, numa ferramenta acessível a todos, mas acima de tudo é preciso perguntar o que fez dela tão necessária.

Alípio Jorge, Diretor e professor no Departamento de Ciência de Computadores da FCUP e Investigador

Alípio Jorge, Diretor e professor no Departamento de Ciência de Computadores da FCUP e Investigador

Ferramentas de Inteligência Artificial mais utilizadas | Inquérito de autoria própria

Ferramentas de Inteligência Artificial mais utilizadas | Inquérito de autoria própria

Luís Loureiro, Professor universitário e ex-Jornalista da RTP

Luís Loureiro, Professor universitário e ex-Jornalista da RTP

O fenómeno do plágio assume hoje novos contornos inegavelmente associados à tecnologia. Nunca o conhecimento esteve tão acessível como na Era Digital, o que parece resultar na perda de autoria e de propriedade.

No ensino, esta prática obrigou os docentes a adotarem novos softwares para a identificação de cópias integrais essencialmente derivadas das ferramentas de Inteligência Artificial, como o Chat GPT. “Há ferramentas tecnológicas para nós detetarmos plágio”, assume Luís Loureiro.

Apesar do desenvolvimento destes softwares, o professor universitário, afirma que “não é assim que deteto plágio”. O corpo docente, atribui uma grande responsabilidade ás suas capacidades de conhecer os alunos. É através da comparação de todo o percurso académico e do perfil do aluno que se destaca a genuinidade ou fraude nas avaliações.

“Torna-se muito difícil de enganar quando as pessoas fazem corresponder nos trabalhos aquilo que são nas aulas”.

Quando existem irregularidades na forma de expressão ou na linguagem, é possível encontrar o conteúdo plagiado com recurso a Inteligência Artificial. “Deteto plágio precisamente por perceber se aquilo que me é dado foi obtido através de formas automatizadas ou se é dado espontaneamente pelo aluno”. A sensibilidade é também uma característica invocada, sendo uma capacidade humana que nos permite detetar a máquina “nada melhor do que a minha sensibilidade para chegar a essas conclusões”.

Plágio nas Universidades

Segundo Luís Loureiro, o dilema ético, passa pelos estudantes questionarem que perfil querem apresentar no seu percurso académico “eu sou sério ou não sou sério?”, defendendo que os alunos que optam pela saída mais fácil “estão só a enganar eles mesmos”.

O resultado do uso indevido de ferramentas de Inteligência Artificial pode apresentar consequências nefastas “pessoas que possam utilizar estas ferramentas de forma menos séria, tenham uma relação de domínio sobre outras pessoas que são mais éticas”. Acentua-se assim o problema da “disrupção social”, a partir do momento em que “pessoas menos sérias têm mais poder”.

A inteligência Artificial sempre fez parte dos processos de ensino, no entanto hoje “estamos a enfrentar um estágio bastante avançado”. Luís Loureiro, recorda a transição de “saber a tabuada de cor” para o aparecimento das “calculadoras”, quando frequentou a escola primária. “Há muitos anos que existem instrumentos de cálculo, matemático e aritmético, que são formas de Inteligência Artificial”. O ser humano sempre tentou transformar processos manuais em formas automáticas e rápidas de obter resultados.

Antes da proliferação destas ferramentas no ensino, os alunos recorriam aos motores de busca da Internet, que obrigavam á pesquisa. O conteúdo recolhido servia apenas como referência para a composição do trabalho. Hoje, é somente necessário apresentar tópicos do conteúdo, nos motores de geração, e a Inteligência Artificial desenvolve essa ideia.

A solução, para Luís Loureiro, é clara. “É nós integrarmos estas novas “calculadoras”, como todas as outras ferramentas foram sendo integradas”, assumindo a Inteligência Artificial como algo que surge apenas para “coadjuvar com a Inteligência Humana”.

A atuação das Instituições Universitárias difunde-se por dois propósitos, com vista à minimização de riscos.

“A Universidade deve ensinar-nos na parte prática, a utilizarmos bem as ferramentas e depois a pensarmos e agirmos sobre elas através do nosso pensamento”

O professor Universitário, defende a necessidade de o indivíduo parar, para que possa pensar e ver com clareza aquilo que se passa ao seu redor. “Quando eu penso eu estou a parar e ao parar eu estou a colocar uma intervenção profundamente humana na forma de nós olharmos para os fenómenos e para a vida”.

O crescimento da utilização de ferramentas de Inteligência Artificial, numa fase de vida em que os estudantes se preparam para integrar o mercado de trabalho, pode representar uma forte ameaça para o futuro. “Vamos ter pessoas cada vez menos preparadas, menos capacitadas e apenas aptas de executar funções automáticas”.

"As pessoas devem ter sempre a chave na mão, nunca devem passar a chave para as máquinas"

Alípio Jorge

Imagem gerada por IA

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Desde que Alípio Jorge ingressou na área de investigação, a sua atuação tem se vinculado á Inteligência Artificial, particularmente, na área da aprendizagem computacional [Machine Learning]. Na área da informática, acredita que o maior impacto provém da “geração de código” na questão da automatização da programação. Os programadores, cada vez mais procuram ferramentas que automatizam as suas atividades. Assume-se como um ramo que “está a crescer rapidamente” incentivado pelo aumento significativo do recurso à Inteligência Artificial.

Na sua área profissional, a tradução automática é uma ferramenta de suporte fucral, mesmo para o desenvolvimento de projetos. Facilitador do trabalho humano, é capaz de traduzir um artigo, em diferentes línguas, num reduzido período de tempo. Os sistemas de recomendação também são um auxílio ás suas funções “as recomendações são baseadas em dados recolhidos da utilização dos clientes. Em função das preferências, é atribuído um perfil e são dadas recomendações” explica Alípio Jorge.

“A inteligência Artificial tem o poder de desenvolver ferramentas com menos intervenção humana e que garantem mais eficácia e melhores resultados”

O investigador tem desenvolvido inúmeros projetos dentro das mais variadas áreas profissionais. A atuação estende-se para os textos jornalísticos, extração de narrativas a partir de textos, sistemas de recomendação automática e para o campo da saúde. Neste último setor, segmentaram o seu estudo na previsão de aparecimento de sintomas da doença dos pezinhos [Paramiloidose], com dados clínicos e hospitalares.

O Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) tem integrado em si um centro de investigação, o "2Ai", que está a transformar a forma como a tecnologia e a Inteligência Artificial são aplicadas em diversas áreas. Composto por três laboratórios distintos focados em saúde, indústria, segurança e ambiente, o "2Ai" dedica 67% do seu orçamento à área da saúde, sublinhando a importância deste setor para a Instituição de Ensino.

Raul Ribeiro, de 24 anos, é estudante de doutoramento e uma das mentes jovens que trabalham neste centro. Partilhou alguns dos projetos revolucionários em desenvolvimento no "2Ai", começando por apresentar um robô assistido por Inteligência Artificial que prevê auxiliar o corpo médico na biópsia do cancro da mama. Este tipo de cancro afeta 25% das mulheres em todo o mundo, o que torna esta ferramenta revolucionária. A sua aplicação promete reduzir o número de tentativas necessárias para realizar uma biópsia bem-sucedida.

Atualmente, a biópsia do cancro da mama é um procedimento que envolve dois operadores: um que manuseia o ultrassom e outro que insere a agulha na mama. Esta metodologia apresenta dois grandes desafios: a perda de localização se o paciente se mover e a necessidade de inserir a agulha precisamente no plano do ultrassom, explica Raul Ribeiro.

Os investigadores do "2Ai" identificaram estas dificuldades e propuseram uma solução inovadora. Um robô que, acoplado ao ultrassom, compensa os movimentos do paciente, mantendo sempre o ultrassom alinhado com a lesão. Este sistema não só aumenta a precisão como reduz o número de tentativas, melhorando significativamente a eficiência do procedimento.

Além deste sistema para biópsias, existem outros projetos impactantes no ramo da saúde, que o "2Ai" tem vindo a desenvolver. Um deles é o Laser Navi, dedicado ao tratamento de varizes. Este projeto exemplifica o foco do IPCA na aplicação de soluções diretas e práticas que visem mitigar as falhas encontradas no sistema.

Outro projeto em progresso é um capacete que trata a plagiocefalia, uma condição que causa assimetria no crânio dos bebés. Este capacete promete ser uma ferramenta eficaz e precisa para corrigir esta deformidade, oferecendo uma solução transformadora para um problema comum.

Raúl Ribeiro acredita que a Inteligência Artificial, apesar de registar um impacto crescente, não alterará significativamente os conhecimentos fundamentais necessários na área médica. Defende, que a Inteligência Artificial é mais uma ferramenta de auxílio que aumenta a produção e a eficiência, sem substituir o trabalho humano. Os benefícios da Inteligência Artificial na medicina são claros: processos que anteriormente eram demorados e extenuantes para os operadores agora são mais rápidos e simples, graças às capacidades desta ferramenta. Esta tecnologia permite que os profissionais de saúde se concentrem em tarefas mais complexas, melhorando a qualidade geral dos cuidados de saúde.

De olhos virados para o futuro, o trabalho realizado no "2Ai" é um testemunho da importância da integração da tecnologia e da Inteligência Artificial na medicina moderna. Com projetos inovadores e uma equipa dedicada, este centro de investigação está a abrir caminho para um futuro onde a saúde e a tecnologia caminham de mãos dadas, trazendo soluções eficazes e revolucionárias para desafios médicos complexos. A dedicação de jovens investigadores como Raúl Ribeiro demonstra o potencial ilimitado que a união entre a tecnologia e a medicina pode alcançar, melhorando a vida de milhares de pessoas por todo o mundo.

A evolução da Inteligência Artificial tem gerado discussões sobre o seu impacto no trabalho e nas funções desempenhadas pelo ser humano. Paulo Nuno Vicente, especialista em Comunicação e Novas Tecnologias, oferece uma perspetiva profunda e crítica sobre esta transformação tecnológica.

Paulo Nuno Vicente, desafia a ideia comum de que a Inteligência Artificial nunca poderá substituir alguém nas suas funções. Este argumenta que, para as tarefas de compilação e processamento rápido de informação, a Inteligência Artificial já se está a tornar indispensável. "Sistemas como estes vão ser muito úteis, porque a arquitetura de um computador é concebida para isso", explica. No entanto, simultaneamente destaca a importância da criatividade e do pensamento crítico, características humanas que a inteligência artificial ainda não consegue replicar de forma natural.

O especialista, ilustra a limitação da Inteligência Artificial, ao abordar a questão da expressividade e intencionalidade humana. "Sistemas como DALL-E podem replicar todos os quadros de Van Gogh que quisermos, mas a intencionalidade e a expressividade são genuinamente humanas", ressalta. Destaca ainda, a relevância do setor emocional nas decisões humanas.

Paulo Nuno Vicente, apresenta uma posição crítica em relação à visão, de que a educação se deve concentrar apenas na memorização e reprodução de informações. Ele acredita que a educação deve ir além, promovendo a criatividade e o pensamento crítico.

"Se acharmos que um aluno deve ir para a universidade apenas para ler e reproduzir textos, perdemos a batalha"

Destaca, também, a necessidade de formação técnica e analítica nas Instituições Educacionais, para preparar os jovens para a transformação, que já decorre no mercado de trabalho. "A proliferação desses temas está a acontecer em diversos domínios da vida social", observa o professor, enfatizando a necessidade de uma abordagem educativa mais moderna e prática.

A Inteligência Artificial está a moldar o mercado de trabalho, de maneiras imprevistas. Este aponta que novas profissões estão a surgir, muitas das quais nós nem sequer imaginamos hoje. Menciona o papel emergente de engenheiros especializados em comandos de Inteligência Artificial, responsáveis por desenvolver instruções precisas para que os sistemas respondam de forma adequada.

No entanto, também alerta para os perigos da privatização do conhecimento e do acesso a estas ferramentas. "Estamos a criar bolsas de não prestação de contas, onde empresas privadas multinacionais detêm o poder sobre as infraestruturas críticas", alerta.

Para o investigador, a promoção da literacia digital e da compreensão da Inteligência Artificial, deve começar na educação. "Precisamos de formação, de formadores e de professores", afirma. Critica o atraso nos currículos escolares, que ainda focam em habilidades básicas, enquanto deveriam preparar os alunos para as realidades tecnológicas atuais.

Concorda que a introdução da Inteligência Artificial deve ser efetuada de forma prática e experimental. "Devemos criar exercícios de literacia e massa crítica, onde os alunos possam explorar e entender as limitações destas ferramentas", sugere. Acrescenta, ainda, que existe uma falta de discussão política sobre questões básicas da literacia em Inteligência Artificial, como a origem dos dados usados para treinar sistemas de Inteligência Artificial.

Apresenta um destaque para a necessidade de uma abordagem regulatória e educativa, de modo a evitar que a rápida implementação da Inteligência Artificial aprofunde as desigualdades sociais. Argumenta que políticas públicas ativas e preocupadas são essenciais para conciliar a inovação digital com o humanismo digital. "Descartar a noção de sociedade e comunidade em função de ganhos meramente comerciais não é um modelo sustentável", conclui o especialista.

Paulo Nuno Vicente oferece uma visão equilibrada sobre a Inteligência Artificial, reconhecendo tanto as suas potencialidades, como as suas limitações e desafios. Destaca, ainda, a relevância de uma educação crítica e a necessidade de regulamentação, para garantir que a Inteligência Artificial beneficie a sociedade, sem criar desigualdades. Na sua perspetiva, a chave está em equilibrar a inovação tecnológica com os valores humanos e sociais.

No campo da arquitetura, a tecnologia avança a passos largos, trazendo consigo novas ferramentas que prometem revolucionar a maneira como os profissionais trabalham. A Inteligência Artificial, é uma dessas tecnologias emergentes, que vem ganhar espaço e levantar, tanto expectativas, como preocupações. Segundo a arquiteta Raquel Rocha, um dos principais desafios enfrentados na sua área é a escolha da plataforma de Inteligência Artificial ideal para a sua função. "O desafio, para já, é tentar perceber qual é a melhor plataforma, porque estão sempre a aparecer mais". É também necessário balançar custos já que "a maior parte delas são pagas".

Esta rápida evolução e difusão de novas plataformas de Inteligência Artificial no mercado, exigem uma análise ponderada, em constante atualização, para garantir que o investimento realizado trará benefícios reais ao trabalho desenvolvido. A incerteza sobre a durabilidade e a eficácia destas plataformas, adiciona uma certa complexidade à decisão. A arquiteta também aponta para um desafio recorrente na área da arquitetura, que é a necessidade incessante de acompanhar as inovações. "Sentimos a necessidade de estar sempre a acompanhar a evolução tecnológica.”

A inclusão da Inteligência Artificial neste cenário já complexo, é vista como uma ferramenta adicional que, se espera que trará melhorias significativas ao trabalho. No entanto, Raquel Rocha, ressalta que essa constante atualização pode ser desgastante e requer uma gestão eficiente do tempo e dos recursos disponíveis. Apesar das preocupações, Raquel Rocha acredita no potencial da inteligência artificial para transformar a prática da arquitetura.

A expectativa é que a Inteligência Artificial possa automatizar tarefas repetitivas, proporcionar “insights” mais rápidos e precisos durante a fase de projeto e permitir uma maior criatividade e inovação por parte dos arquitetos, libertando-os de algumas das limitações impostas pelos processos tradicionais.

Alípio Jorge, uma figura moderada no campo da inteligência artificial, adota uma abordagem equilibrada quanto aos riscos e vantagens desta tecnologia. Para ele, a inteligência artificial não deve ser promovida aleatoriamente, mas encarada como uma ferramenta dominante, com capacidades únicas em relação a outras tecnologias.

Este reconhece que o impacto da IA no emprego é um risco real, mas acredita que a solução não passa por proibições ou grandes restrições no seu desenvolvimento. Em vez disso, Alípio defende o uso do bom senso, sublinhando que as pessoas devem sempre manter o controle sobre a tecnologia, “As pessoas devem ter sempre a chave na mão, nunca devem passar a chave para as máquinas.”.

Alípio enfatiza, também, a importância de não contribuir para a inutilidade das pessoas, mesmo que todos desejemos um pouco mais de tempo livre. O especialista alerta que, sociológica e economicamente, esta mudança não é simples.

Além disso, como sociedade, devemos estar atentos à concentração de poder e riqueza que pode surgir com a inteligência artificial. Perante isto, levanta uma questão recorrente na área: "E se tivermos sucesso? Qual será o impacto?".

Ele acredita que todos nós devemos refletir sobre este impacto e trabalhar coletivamente para extrair o que é útil da tecnologia, mantendo sempre as pessoas no centro. Mesmo que algumas tarefas possam ser executadas por máquinas, é essencial que certas funções permaneçam humanas, assegurando, assim, o equilíbrio e a utilidade da sociedade face ao avanço tecnológico.

"Temos um regulamento que mede os riscos, mas ainda não está perfeito, nem perto disso”

Isa Meireles

Imagem gerada por IA

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A proliferação da Inteligência Artificial para as mais diversas áreas profissionais, apresenta simultanemente pontencialidades e riscos que devem ser regulados. A regulamentação governamental assume-se fucral para o controlo da Inteligência Artificial no mercado de trabalho. É o posicionamento defendido por 45,9% dos indivíduos, segundo um inquérito elaborado.

Necessidade da Regulamentação Governamental para controlo da Inteligência Artificial no mercado de trabalho | Inquérito de autoria própria

Necessidade da Regulamentação Governamental para controlo da Inteligência Artificial no mercado de trabalho | Inquérito de autoria própria

A inserção desta ferramenta no ramo jurídico apresenta desafios únicos e complexos, necessários de ser superados de forma a evitar o uso inadequado destas ferramentas. Este recurso tecnológico, tem vindo a facilitar tarefas quotidianas, mas a sua incorporação no setor jurídico é um processo delicado e repleto de variantes.

No campo do direito, a aplicação da Inteligência Artificial, tem de ser cuidadosa, mas pode apresentar trabalhos com resultados bastante promissores . “As falhas nos sistemas judiciais podem ser muito mais graves do que os erros cometidos por assistentes virtuais ou chatbots", assume Isa Meireles.

A advogada, menciona a área da Saúde, como um campo que já atua em complemento com a robótica "já existem robots a realizar cirurgias". Equipara a advocacia e a medicina como campos profissionais, que atuam com Inteligência Artificial, mas que precisam de garantir controlo sobre esta ferramenta. "Qualquer erro pode ter consequências catastróficas".

Com esta crescente evolução, o Conselho Superior de Magistratura em Portugal tem estado a acompanhar esta inovação, com projetos que utilizam a Inteligência Artificial para facilitar o trabalho dos magistrados. As plataformas judiciais estão a ser aprimoradas com estas ferramentas, mas "cada passo neste campo precisa de ser meticuloso e ponderado", explica Isa Meireles.

A União Europeia aprovou uma regulamentação pioneira, a "AI Act", em março de 2024, que promete regular de forma abrangente a Inteligência Artificial.

"A prioridade é garantir que os sistemas de IA utilizados na UE sejam seguros, transparentes, rastreáveis, não discriminatórios e ecológicos"
Parlamento Europeu

A nova legislação, visa mitigar os riscos associados ao uso desta ferramenta. Os Sistemas de Inteligência Artificial são categorizados consoante o nível de risco que representam para os utilizadores: "risco inaceitável", "alto risco" e "risco mínimo". Mediante a categoria em que os Sistemas se insiram, serão regulamentados por regras diferentes. O regulamento inclui, ainda, um regime sancionatório, para garantir que a utilização da Inteligência Artificial cumpre os limites estipulados.

A elaboração da "AI Act", revelou ser processo demorado que envolveu inúmeras discussões e revisões. O primeiro quadro regulamentar da UE para a IA, tinha sido já proposto em abril de 2021, pela Comissão Europeia. Aprovada este ano, será apenas plenamente aplicável 24 meses após a entrada em vigor.

Isa Meireles, acredita na capacidade de atuação do Regulamento Europeu, mas defende que a sua ação individual não garante a segurança jurídica. Invoca a entidade fiscalizadora ativa para aplicar as sanções previstas, quando a Inteligência Artificial for usada indevidamente.

Para a advogada, a Inteligência Artificial tem o poder de mudar drasticamente a esfera jurídica. Advogados, magistrados e outros profissionais necessitam de estar atualizados, tendo em conta as novas tecnologias. No entanto, não podemos descartar a necessidade de haver uma constante influência humana.

"A decisão judicial, baseada na convicção e julgamento humano, não pode ser totalmente substituída por máquinas"

O período que compreendeu a pandemia de COVID-19, expôs a falta de preparação que muitos advogados tinham para proceder a julgamentos online, evidenciando a necessidade de capacitação, perante as tecnologias digitais. Podem ser uma ferramenta de apoio, facilitando a pesquisa e a análise de casos. "Mas a capacidade humana de decisão é insubstituível", acrescenta Isa Meireles.

Como principais desafios, destaca a ética, que engloba ações com vista à segurança dos dados, à autenticidade das informações e à fidedignidade das decisões baseadas em Inteligência Artificial. Garantir que os dados pessoais, como dados biométricos, estejam protegidos e que as informações geradas por estes sistemas sejam autênticas e confiáveis deve ser a finalidade desta legislação.

A Inteligência Artificial tem o poder de transformar o campo do direito, oferecendo tanto oportunidades quanto desafios. As Instituições de ensino, formadoras no campo do Direito, já estão a adaptar as suas ofertas e formas de aprendizagem, para incluir a instrução de novas tecnologias, com vista a preparação dos futuros profissionais para um mundo cada vez mais digital e interconectado.

Paralelamente, a arquitetura também tem vindo a integrar a Inteligência Artificial nos seus processos. Contudo, a aplicação da Inteligência Artificial neste campo enfrenta barreiras específicas, especialmente nos projetos de obras públicas. A liberdade criativa dos arquitetos é limitada já que ficam condicionados pelas inúmeras leis de construção e urbanismo. A Inteligência Artificial não consegue ser introduzida nestes projetos. "As obras públicas, tem tanta legislação, tanta burocracia, que a parte criativa fica condicionada", acrescenta a arquiteta Raquel Rocha.

Os arquitetos são responsáveis por garantir que os edifícios não sejam apenas esteticamente apelativos, mas que também cumpram todas as normas estipuladas pela legislação. Um papel que a máquina não consegue executar. A Inteligência Artificial pode ajudar na criação de conceitos e na visualização de projetos, mas a conformidade com as regulamentações exige um olhar humano detalhado.

Alípio Jorge, defende que a regulação é indispensável, mas que as empresas e centros de investigação também têm de se submeter a uma autorregulação.

“Não é fácil legislar uma área que está a expandir e sempre a mudar”.

Balancear a regulamentação e o desenvolvimento é algo que está em falta, assim como “os cidadãos e consumidores terem mais conhecimento na área", remata o investigador.

"Se eu acreditar em toda a informação, corro sérios riscos de mentir ao meu público"

Luís Loureiro

Alba Renai, apresentadora de televisão espanhola gerada por IA - Imagem com autoria da Sic Notícias

Alba Renai, apresentadora de televisão espanhola gerada por IA - Imagem com autoria da Sic Notícias

As Redes Sociais, Revistas e Televisão, já funcionam com recurso a ferramentas de Inteligência Artificial. A sua proliferação obrigou a um maior controlo da legislação, de forma a ser respeitado o direito da privacidade, direito da imagem e o direito da autoria. A inteligência Artificial emergiu como uma força transformadora, moldando e distorcendo a imagem dos Media. Esta revolução tecnológica traz consigo inovações surpreendentes, mas também levanta questões críticas sobre a conduta ética e profissional.

As redes sociais são uma boa aposta para o uso de Inteligência Artificial. A aplicação viral, TikTok, surgiu em 2014, como uma plataforma de partilha de vídeos com contéudos de carácter distinto. Define-se como um exemplo claro de como a Inteligência Artificial pode ser recurso para a criação de conteúdos editados e transformados com esta ferramenta. As aplicações "CapCut" e "FaceApp", amplamente aplicadas no TikTok, permitem aos utilizadores editar a imagem e som de forma sofisticada, recorrendo a filtros de Inteligência Artificial, que podem alterar a fisionomia e a voz natural a quem os recorre.

FaceApp | Alteração de Imagem

FaceApp | Alteração de Voz

Estas ferramentas possibilitam a criação de vídeos, onde a aparência e a voz dos utilizadores podem ser modificadas. É possível aplicar filtros que transformam a aparência de uma pessoa numa celebridade ou alterar a voz para soar como um bebé, por exemplo. Este nível de manipulação, embora fascinante e criativo, levanta sérias questões pela possibilidade da violação de direitos indispensáveis, como da imagem e da autoria. Utilizar a voz de outra pessoa sem permissão ou transformar-se digitalmente em alguém, são práticas que podem infringir a legislação. A linha entre a realidade e a ficção torna-se impercetível e a integridade pessoal é colocada em jogo.

Na imprensa, a Inteligência Artificial também está a deixar a sua marca. A “Copy Magazine”, fundada em 2023, instituí-se a primeira revista de moda, no mundo, criada inteiramente por Inteligência Artificial. A sua produção é fruto da imaginação de Carl-Axel Wahlström, delegado diretor criativo. É um marco histórico para a Inteligência Artificial com a totalidade da responsabilidade entregue aos algoritmos. Todas as imagens e conteúdos desta revista são produzidos por Inteligência Artificial. É difícil acreditar que aquelas figuras tão humanas, de humano não tenham nada.

Imagem gerada por Inteligência Artificial | Autoria da "Copy Magazine"

Imagem gerada por Inteligência Artificial | Autoria da "Copy Magazine"

Imagem gerada por Inteligência Artificial | Autoria da "Copy Magazine"

Imagem gerada por Inteligência Artificial | Autoria da "Copy Magazine"

Embora a “Copy Magazine” represente um marco na utilização de Inteligência Artificial para a criação de conteúdos digitais, não deixa de levantar dúvidas sobre a credibilidade e originalidade dos materiais publicados.

"Incorpora a criatividade humana e o progresso tecnológico, ilustrando o potencial ilimitado que surge quando a imaginação e a tecnologia se combinam"
Copy Magazine

A originalidade do produto, sempre foi fruto da capacidade do ser humano de imaginar e criar um conceito que espelhava a sua visão única do mundo. A revista "não pretende substituir a imaginação humana", mas defende que os resultados são promissores se a unir-mos com a Inteligência Artificial. "A sinergia entre as ideias humanas e a tecnologia de IA pode revolucionar e inspirar criações inovadoras", explica a Copy Magazine.

A conduta ética e profissional, desafia-nos a repensar os limites da atuação da Inteligência Artificial.

A televisão, um dos pilares dos media tradicionais, não está também imune à influência da Inteligência Artificial. Recentemente, uma emissora espanhola, o canal Telecinco, juntou à sua equipa uma jornalista inteiramente criada por Inteligência Artificial. Alba Renai, foi a primeira apresentadora espanhola criada por um algoritmo, para apresentar o reality show “Sobreviventes”. Esta inovação, embora tecnologicamente impressionante, levanta questões éticas profundas.

Primeira jornalista espanhola criada por Inteligência Artificial, Alba Renai | Autoria do Jornal de Notícias

A criação de jornalistas virtuais, pode ameaçar a profissão do jornalismo, substituindo seres humanos por entidades artificiais que, apesar de eficientes, carecem de sensibilidade humana. A utilização de jornalistas virtuais pode comprometer a integridade da informação e a confiança do público, colocando em risco os valores fundamentais do jornalismo: a verdade e transparência.

A integração da Inteligência Artificial nos media, parece continuar a transformar a indústria, oferecendo novas oportunidades para a criatividade e inovação. À medida que avançamos para um futuro onde a Inteligência Artificial desempenha um papel cada vez mais central, é essencial encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a salvaguarda dos princípios éticos que sustentam a nossa sociedade. Somente assim poderemos aproveitar todo o potencial da Inteligência Artificial nos media, sem comprometer o valor da atuação humana.

A Inteligência Artificial representa uma ameaça para o Jornalismo? Esta surge como uma poderosa ferramenta, que promete transformar diversos setores, incluindo o jornalismo. Para muitos, a Inteligência Artificial representa uma oportunidade de obter conhecimento de forma rápida e eficiente. Contudo, esta revolução tecnológica traz consigo desafios significativos, principalmente na verificação da veracidade das informações que circulam.

A Inteligência Artificial pode ser vista como uma ferramenta avançada, que facilita o acesso a informações sobre uma vasta série de tópicos. Os Jornalistas, assim como outros profissionais, podem beneficiar da rapidez e precisão com que a Inteligência Artificial processa dados e apresenta resultados.

"A grande questão é, se somos capazes de verificar se estes conhecimentos correspondem ou não a informações de facto verificadas "

O compromisso da verificação da informação é de responsabilidade individual, mesmo com o aparecimento das tecnologias avançadas, argumenta.

Para o jornalista, a verificação é uma parte essencial no processo de reportar e de escrever. "Como jornalista, eu preciso de introduzir aspetos de verificação". É lhes exigido, que pensem criticamente sobre as informações que recebem, questionando a sua origem e a sua precisão. Luís Loureiro, defende que "se um jornalista pensar naquilo que está a fazer, não há problema nenhum em usar a Inteligência Artificial".

O desafio, no entanto, é garantir que a informação gerada por máquinas não seja aceite totalmente como verdade.

"Se eu acreditar em toda a informação, corro sérios riscos de mentir ao meu público"

A Inteligência Artificial tem a capacidade de acelerar os processos jornalísticos, diminuindo o tempo entre a ocorrência de um facto e a publicação da notícia. No entanto, essa rapidez não pode substituir a necessidade de reflexão e verificação humana. "As ferramentas vão aumentar a velocidade dos processos, mas a intervenção humana é fundamental para pensar estes processos", explica.

O ex-jornalista, reconhece que estas ferramentas possam gerar rapidamente um texto ou editar um vídeo, "a história que vai ser produzida, vai ser muito mais rápida do que eu produziria", mas não reduz a necessidade do jornalista rever e validar essas produções.

Perante estas ferramentas, os jornalistas precisam de desenvolver habilidades específicas como a capacidade de questionar e parar para refletir sobre a informação. "As capacidades que é preciso um jornalista ter são as mesmas de sempre", confirma. É preciso saber utilizar a Inteligência Artificial a favor do processo jornalístico.

A ideia de que a Inteligência Artificial possa substituir os jornalistas é uma preocupação crescente. No entanto, Luís Loureiro acredita que o futuro da profissão está seguro, desde que continue a desempenhar a sua função crítica de verificação e reflexão. O jornalismo, segundo Luís Loureiro, deve ser visto como uma "atividade insubstituível na sociedade", responsável por transformar a informação em conhecimento útil para a tomada de decisões informadas.

Segundo um inquérito realizado, apenas 26,9% dos indivíduos considerou que a máquina tem competências para substituir, na sua totalidade, o trabalho humano.

Possibilidade da Inteligência Artificial substituir o trabalho do ser humano | Inquérito de autoria própria

Possibilidade da Inteligência Artificial substituir o trabalho do ser humano | Inquérito de autoria própria

Para os aspirantes a jornalistas, o conselho é claro: vale a pena investir numa carreira em jornalismo. "Fazer um curso de jornalismo continua a fazer sentido, sem dúvida nenhuma", remata. O jornalismo exige um pensamento crítico e reflexivo, que a Inteligência Artificial ainda não consegue reproduzir. "Não há nada de mais humano do que pensar", conclui, enfatizando que a essência do jornalismo está na sua humanidade intrínseca.

"O que vamos fazer agora se as máquinas fazem tudo?

Alípio Jorge

Imagem gerada por IA

Imagem gerada por IA

Preocupação do avanço da Inteligência Artificial no mercado de trabalho | Inquérito de autoria própria

Preocupação do avanço da Inteligência Artificial no mercado de trabalho | Inquérito de autoria própria

Substituição do trabalho humano pela Inteligêcia Artificial | Inquérito de autoria própria

Substituição do trabalho humano pela Inteligêcia Artificial | Inquérito de autoria própria

O futuro da Inteligência Artificial ainda é incerto, podendo representar uma potencialidade ou um risco para o mercado de trabalho. É preciso reconhecer que, apesar da Inteligência Artificial já ser regulamentada e, por isso, já definir limites para a sua utilização, ainda há um longo caminho a percorrer. A sociedade não só precisa de conseguir utilizar esta ferramenta, como também tem de ser capaz de a compreender, conseguindo equilibrar a sua intervenção com o pensamento e sensibilidade humana. Temos de perceber aquilo que faz do ser humano, uma figura única e irreplicável.

Raquel Rocha, acredita que a evolução da Inteligência Artificial é imprevisível, mas que promete mudanças significativas na arquitetura. As ferramentas atuais já indicam um futuro próximo, onde a criação de projetos será muito mais rápida e automatizada. “A parte dos desenhos técnicos vai ser gerada automaticamente”, explica Raquel, mencionando a redução de tempo de trabalho do arquiteto. Os arquitetos poderão focar apenas na correção e aperfeiçoamento dos projetos gerados por esta ferramenta.

Num cenário mais distante, Raquel sublinha a possibilidade de uma integração entre a Inteligência Artificial e a impressão 3D, viabilizando a construção de edifícios complexos, com a mínima intervenção humana. Embora ainda existam desafios e barreiras, a tecnologia poderia evoluir para um ponto onde se poderia simplesmente “pedir” um edifício e uma impressora 3D, guiada por Inteligência Artificial, realizaria a construção, acrescenta. Considera que é difícil prever o que irá acontecer, mas que a presença das máquinas irá ter, cada vez mais, um impacto significativo na sociedade e no quotidiano.

Para Alípio Jorge, o maior risco da Inteligência Artificial está na possibilidade de reduzir significativamente as oportunidades de trabalho para as pessoas, devido à crescente substituição do ser humano pela máquina. Segundo um inquérito realizado, 45,3% do indivíduos preocupam-se com o avanço da Inteligência Artificial na sua área de trabalho. Alípio enfatiza, ainda, que essa questão não é apenas sobre a mudança de empregos, mas sobre a natureza do que resta para a humanidade construir. “Esse é um problema que a sociedade tem de tratar,” afirma, ressaltando que a solução deve envolver a sociedade como um todo e não apenas as pessoas que trabalham diretamenta com a Inteligência Artificial.

Alípio exemplifica com o jornalismo, onde redações totalmente automatizadas já são uma realidade, em certa medida. No entanto, este acredita que as decisões editoriais e a essência do conteúdo devem permanecer nas mãos humanas. “Nós queremos que a linha editorial, as decisões importantes sobre aquilo que se publica, seja feito por pessoas como nós” argumenta, destacando a importância de manter a atução humana nos processos.

Partindo da mesma questão, Luís Loureiro interroga se a Inteligência Artificial pode realmente substituir o ser humano nas suas funções. O ex-jornalista considera que existem habilidades intrinsecamente humanas que as máquinas jamais poderão replicar, como as emoções, as intuições e a experiência sensorial. “Há coisas que nos tornam humanos, que eu penso que por muito que eu me esforce não vejo nenhuma máquina a fazer”, afirma convictamente. Segundo um inquérito realizado, 26,9% das pessoas acreditam que a Inteligência Artificial substituirá o trabalho das pessoas, mas a maior percentagem registada apresenta, ainda, uma certa dúvida em relação a esta tema.

Segundo Luís Loureiro, apesar da crescente digitalização da nossa vida, o lado analógico, caracterizado pelo contacto humano e pelas emoções, permanecerá relevante. O professor, prevê formas de resistência à Inteligência Artificial, que valorizam essa experiência analógica, oferecendo uma visão otimista sobre o futuro. Enfatiza a substituição do conceito “Parar é morrer”, para “Parar é viver”, indicando que a humanidade pode encontrar maneiras de controlar a propagação desmedida das máquinas, preservando a essência do que significa saber e ser humano.

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Paulo Nuno Vicente - Autor da obra "Os Algoritmos e Nós"

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Projeto do IPCA - Robô que auxilia na biópsia do cancro da mama

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Robô programado com Inteligência Artificial

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Raul Ribeiro - Membro do Centro de Investigação "2AI" do IPCA

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IPVC - Projeto "IVLinG"

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Exponor "Qualifica" - Realidade Virtual

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Assistente Virtual

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Óculos de Realidade Virtual

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Projeto do IPCA - Capacete para bebé em situações de plagiocefalia

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Autoras

Sara Barbosa

"É na cidade de Braga que passo muito do meu tempo, uma vez que sou estudante de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho. Estou, neste momento, no último ano de licenciatura, prestes a encerrar uma grande etapa do meu percurso. Aliada à paixão pela dança, o "bichinho" pela comunicação surgiu desde muito cedo na minha vida e, desde então, nunca mais desapareceu.  No palco da vida, sonho em fazer parte do mundo da rádio e da televisão". 

Filipa Cayolla

"Uma comunicadora que nasceu para falar e aprendeu a saber ouvir. Era ainda criança e já conversava por horas à frente do espelho, e imaginava tudo aquilo que, um dia, poderia partilhar com o mundo. Sempre questionei tudo à minha volta, porque a resposta “isto é assim, porque é assim” não me contentava. A minha ambição e foco por já ter bem delimitado tudo aquilo que quero ser e fazer, fez-me trabalhar arduamente para atingir esses objetivos".

Adriana Gomes

"Uma estudante de Ciências da Comunicação, apaixonada por conectar palavras e ideias para criar impacto. Desde o início desta aventura, tenho explorado diferentes aspetos da comunicação, procurando alargar os meus horizontes e desenvolver competências teórico-práticas. Estou comprometida a utilizar a minha voz e habilidades para promover a compreensão e inspirar mudanças positivas".